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Lux

"A minha luz interior é o que me torna diferente, e sempre cuido com o lugar que escolho iluminar." - Lux

História[]

Luxanna Stemmaguarda é uma jovem e poderosa maga da luz nascida em Demacia, um reino recluso onde as habilidades mágicas são vistas com medo e desconfiança. Obrigada a manter seu poder em segredo por boa parte da juventude, ela cresceu temendo que a descobrissem e a exilassem, mas com o tempo aprendeu a aceitar sua magia e a usá-la secretamente a serviço de sua terra natal.

Luxanna - ou Lux, como preferia ser chamada - cresceu na cidade demaciana de Alta Pratânia, a mais nova de duas crianças nascidas na prestigiosa linhagem Stemmaguarda; um honorífico dado à família incumbida de proteger o rei. Seu avô salvara a vida do rei na Batalha da Presa da Tempestade, e seu pai assumiu os deveres de proteção durante o ataque noxiano conhecido como a Queda de Ciro. Esperava-se que o irmão mais velho de Lux, Garen, também honrasse o título.

Desde a mais tenra idade, tanto Lux quanto Garen foram ensinados a lutar, cavalgar e caçar. Porém, enquanto Garen escolheu seguir a tradição familiar e juntou-se à Vanguarda Destemida - um dos regimentos de combate de elite de Demacia - Lux nutria sonhos de se aventurar para além das fronteiras de Demacia para explorar o mundo lá fora. Seus pais não aprovavam tais ideias e esperavam que Lux, sendo a única outra filha, assumisse o papel de guardiã e defensora das propriedades da família. Embora fosse um dever importante, não era isso que a idealista e obstinada Lux tinha em mente para o futuro. Ela idolatrava Garen, mas protestava contra a sua ideia de que deveria deixar suas ambições de lado e fazer o que dela esperavam, como era dever de todos os demacianos.

Receber ordens não era o forte de Lux, uma garota incontrolável com grandes ideias e sonhos brilhantes. Para a infinita frustração dos tutores que buscavam prepará-la para uma vida de zelo à família, Lux questionava todos os ensinamentos e ia atrás de ideias novas e interessantes, debatia diferentes perspectivas e, de modo geral, frustrava seus professores. Ainda assim, era impossível irritar-se com Lux, pois sua sede de vida e brilho interior acalmavam até os mais perturbados humores. Ela sempre tinha pensado que esse era o estado definitivo das coisas, mas, à medida que os dias passaram, ela começou a perceber que isso era mais do que apenas um erro. A verdade sobre o significado das coisas veio à tona quando, certo dia, Lux cavalgava solitária nas montanhas do norte ao entardecer.

Enquanto o último raio de sol afundava a oeste, seu cavalo escorregou no chão congelado e caiu, quebrando a perna da frente. Ela ficou ilhada, longe demais da cidade mais próxima para chegar antes do anoitecer e perturbada demais com a dor de seu cavalo para simplesmente abandoná-lo. Ela sabia o que Garen diria: sacrifique o cavalo rapidamente para acabar com seu sofrimento. Mas Lux não conseguiria matar um animal no qual montava desde criança. Enquanto se preparava para uma noite sozinha nas montanhas, uma matilha de lobos-dente-de-sabre magros e famintos, sentindo o cheiro do sangue do cavalo, saiu de seu covil em busca de carne fresca.

Ao cair da noite, percebendo que Lux ainda não tinha voltado para casa, seu pai e Garen saíram à sua procura. Eles procuraram a noite toda e, no fim, a encontraram na manhã seguinte, solitária e tremendo junto ao seu cavalo amedrontado. Em torno dela, havia seis cadáveres de lobos-dente-de-sabre, pelos queimados e carne rasgada. Lux se recusou a contar o que tinha acontecido, e implorou a seu pai que resgatasse seu amado animal. Uma carroça foi enviada da casa da família, e o cavalo foi salvo enquanto Lux cuidava de seus ferimentos.

Desde aquela noite, a menina sabia que tinha habilidades que superavam as de todos à sua volta, habilidades que o povo de Demacia, tão avesso à magia, enxergaria com ódio. Desde que era bebê, Lux ouvia que a magia havia, certa feita, deixado Runeterra à beira da aniquilação. Seu próprio tio tinha sido massacrado por um mago, e o folclore de Demacia era repleto de narrativas que retratavam feiticeiros como perversos servos do mal e corações puros corrompidos pela magia. Será que ela se transformaria em um deles? Seria ela uma abominação a ser morta ou exilada bem longe das grandes muralhas? O medo e a incerteza a atormentavam, e ela passou muitas noites de olhos e punhos firmemente cerrados para impedir que a luz atravessasse sua pele e emanasse para o ambiente.

O receio de que houvesse algo errado com ela quase consumiu sua alma. Porém, aos treze anos de idade, houve uma estranha noite na capital de Demacia; uma noite em que, segundo contam, um grande colosso de pedra saiu andando escuridão afora. Depois do episódio, Lux voltou a Alta Pratânia com uma nova perspectiva sobre seus poderes.

Os Stemmaguarda deixaram Garen na capital para treinar com a Vanguarda Destemida, e Lux só via seu irmão durante raras visitas a Alta Pratânia. Como resultado, a cada retorno, seu relacionamento ficava mais distante. Quando Lux voltou para casa, estava determinada a aceitar seus poderes em vez de temê-los. Para a eterna consternação de seus guarda-costas, ela sempre conseguia escapar deles para ir cavalgar por horas a fio, longe de olhares críticos. Sozinha na floresta selvagem, Lux dava liberdade à sua magia e, aos poucos, aprendeu a controlá-la melhor. Finalmente, a menina se via livre para soltar seus poderes em toda a sua indômita grandeza. Ela conseguia dobrar a luz para cegar e confundir, criar uma incrível radiância na palma da mão ou conjurar figuras luminosas do nada. Além disso, ela também produzia uma luz tão intensa que era capaz de queimar e destruir. Houve uma época em que tais poderes a assustavam, mas agora ela se comprazia neles, feliz por finalmente poder expressar-se totalmente.

Contudo, à medida que estudava melhor seus poderes, Lux entendia que ainda tinha muito a aprender. Muitas vezes, ao longo dos anos seguintes, a jovem foi o epicentro de fenômenos curiosos na Mansão Stemmaguarda; luzes que dançavam no castelo, estátuas que recitavam poemetos a transeuntes, sons de risada onde aparentemente não havia ninguém. Sua família sempre encontrou um jeito de explicar tais eventos e fez vista grossa para a fonte óbvia dos acontecimentos. Confrontar a realidade do que estava ocorrendo seria reconhecer uma verdade dolorosa e expor a família a uma atenção indesejada. Tentando fazer com que Lux entendesse as realidades do mundo, sua mãe a levava em passeios frequentes pelas propriedades dos Stemmaguarda, visitando as muitas famílias sob sua proteção. Apesar de sua relutância inicial em assumir esse dever, Lux rapidamente se tornou conhecida como alguém que estava sempre disposta a ouvir e a fazer o possível para ajudar seu povo em tempos difíceis.

Quando a menina completou dezesseis anos, viajou com a família à capital de Demacia por um mês para assistir à investidura de Garen no exército da Vanguarda Destemida. Durante sua estadia lá, ela deu continuidade às ações altruístas e trabalhou para ajudar os necessitados junto a uma ordem religiosa beneficente demaciana conhecida como os Iluminadores. Na capital, assim como em Alta Pratânia, Lux conquistou uma reputação de extrema gentileza e sagacidade. Nesse meio-tempo, ela ficou amiga de uma cavaleira dos Radiantes, a ordem de guerreiros dos Iluminadores, chamada Kahina. Nos intervalos dos muitos bailes e eventos a que tinha de comparecer com a família, Lux treinava combate com Kahina, e rapidamente estabeleceu um vínculo profundo com a guerreira.

No entanto, a cada anoitecer, a personalidade inquieta de Lux vinha à tona, e ela usava seus poderes para escapar dos muros da cidade. Demacia havia seduzido Lux com sua beleza, mas, durante uma exploração de um vilarejo nas sombras de uma floresta selvagem, a garota aprenderia que a escuridão pode criar raízes até mesmo no mais luminoso dos jardins.

Lux deu de cara com um ninho de criaturas carnívoras que planejavam atacar os habitantes do vilarejo, então ela as seguiu até seu covil na floresta. As criaturas habitavam um sistema de cavernas subterrâneas repletas de ossos mastigados, e, tomada pelo sentimento juvenil de invulnerabilidade e indignação irada, ela as atacou com fulgurantes irrupções de magia incandescente. Lux matou dezenas de monstros, mas, em sua impetuosidade, havia subestimado sua população, e as criaturas logo a dominaram. Segundos antes de cortarem sua garganta, uma multidão de Radiantes, que também procurava por esses monstros, atacou o covil e cravou suas espadas nas criaturas. A líder desses guerreiros era Kahina, e ela viu do que Lux era capaz.

Lux foi levada de volta a Demacia e foi apresentada ao círculo interno dos Iluminadores, onde teve que tomar uma decisão difícil: usar seus poderes fora das fronteiras de Demacia e aprender sobre seus inimigos ou ser exilada para sempre como detentora de magia. Lux ficou surpresa em saber que Demacia tinha uma ordem disposta a fazer uso de magia, mas a escolha que lhe ofereceram era tentadora demais para ser recusada. E ela a aceitou prontamente. Seus pais voltaram a Alta Pratânia e sabiam apenas que sua filha havia sido recrutada para servir à coroa e que permaneceria em Demacia para se juntar ao exército dos Radiantes. Eles ficaram surpresos, mas também felizes por Lux ter finalmente encontrado seu lugar em Demacia.

Lux ficou na capital por vários anos, treinando com os Radiantes e aprendendo com os Iluminadores antes de embarcar em sua primeira missão. Seu objetivo era infiltrar as terras disputadas do leste de Demacia, alvo do império noxiano, para investigar possíveis sinais de agentes inimigos tentando unir esses estados-tampão contra Demacia. A missão de Lux foi um sucesso total, e o plano nefasto falhou. A frágil aliança dos agentes noxianos foi desfeita com seu colapso em meio a um turbilhão de traições e mentiras. Mais missões se seguiram, cada qual consolidando ainda mais a reputação de Lux como alguém capaz de cumprir até mesmo as tarefas mais difíceis.

Além dos muros de Demacia, Lux aprendeu mais sobre o mundo e viu sua rica diversidade, sua história escrita e uma infinidade de povos. Ela finalmente percebeu que o modo de vida demaciano não era o único jeito de viver e, agora, conseguia enxergar claramente seus defeitos e suas vantagens. Longe de sua terra natal, Lux pode usar livremente seus poderes, mas os esconde quando volta para visitar seus pais e Garen. Para seu irmão e sua família, ela é uma serva leal de Demacia. O que é verdade, só não do jeito que eles pensam.

Carne e Pedra[]

"As sombras se extinguem diante da luz", repetia a garota.

As palavras eram um mantra que ela costumava proferir para se tranquilizar quando sentia que estava perdendo o controle. Apesar dos seus treze anos, ela já era experiente no uso de truques como esse para amenizar os sintomas de sua aflição. Hoje, no entanto, as palavras pouco ajudaram. Hoje, a garota precisava ficar sozinha.

Ela lutou para segurar as lágrimas, evitando contato visual enquanto caminhava rapidamente na direção do olhar inquisitivo dos sentinelas nos portões da cidade. Se eles a parassem, ela sentiu que cederia à pressão e diria tudo a eles. Pelo menos isso chegaria ao fim, ela pensou.

Porém, eles não lhe deram atenção enquanto passava pelo arco, rumo às terras do lado de fora da cidade.

Longe da estrada principal, a garota encontrou um refúgio silencioso em uma colina arborizada. Após garantir que não seria vista, tirou um lenço limpo do bolso, colocou sobre o rosto, e soluçou.

As lágrimas escorreram, rápidas e grossas, por suas bochechas. Se alguém a visse assim, provavelmente não a reconheceria. Todos a conheciam como uma otimista de rosto tranquilo que proferia alegremente "Bom dia!" e "Bom te ver!" todos os dias, independente das circunstâncias.

O outro seu lado (esse lado feio decididamente não-demaciano) era o rosto que a garota não compartilhava com ninguém.

Ao estancar o fluxo de lágrimas com o lenço fino de linho, sua mente começou a se acalmar. Ela finalmente ousou lembrar dos eventos que a levaram às lágrimas. Ela estivera na sala de aula com os colegas quando seu olhar começou a se perder pela janela aberta. O enxame de nectareiras rosas do lado de fora era muito mais interessante do que a tediosa aula sobre táticas de batalha que o instrutor oferecia. As moscas dançavam, não em uníssono, mas em um caos vivaz que era estranhamente lindo. Ela fora hipnotizada pelos movimentos, sentindo seu corpo aquecer com intensa alegria.

Esse calor lhe era familiar. Na maioria das vezes, ele podia ser domado, empurrado para dentro como plumas que escapavam de um colchão. Porém, hoje o calor era... quente, com uma vida toda própria. Ela o sentiu arder em seus dentes, ameaçando explodir no mundo com um leque de tons iridescentes apenas feito em privacidade até então.

Por um breve instante, uma fina gota de luz branca vazou das pontas dos seus dedos.

Não! Ninguém deveria ver isso!, ela pensou, esperando suprimir o brilho.

Pela primeira vez na vida, ele pareceu grande demais. A garota tinha apenas uma chance de se salvar. Ela precisava sair. Ela se levantou e juntou seus pertences.

"Luxanna", seu instrutor dissera. "Você-"

"Sombras se extinguem diante da luz", murmurou ela e correu da sala sem dar explicações. "Sombras se extinguem diante da luz. Sombras se extinguem diante da luz."

Terminando de secar os olhos sob as calmas árvores, seus pés a levaram para cada vez mais longe da cidade. Ela passou a avaliar os custos do incidente. Logo circulariam notícias pela cidadela de que uma estudante tinha saído da sala sem permissão. Que punição ela receberia por sua insubordinação?

O que quer que fosse, seria melhor do que a alternativa. Se ela tivesse ficado, teria entrado em erupção, enchendo todo o prédio da mais pura e brilhante luz. Então, todos saberiam que ela era afligida por magia.

E aí os anuladores viriam.

Um ou duas vezes, a garota vira anuladores nas ruas com seus estranhos instrumentos, erradicando praticantes de magia. Quando esses doentes eram encontrados, eram relocados à força para guetos fora do reino, permanecendo afastados da grande sociedade que a família de Lux tão bem conhecia.

Essa era a pior parte - saber que sua família seria envergonhada. E seu irmão... Ah, o seu irmão. Ela tinha calafrios de pensar no que Garen diria. A garota costumava sonhar que vivia em uma parte diferente do mundo, onde pessoas com dons arcanos eram reverenciados como heróis e celebradas por suas famílias. Só que a garota vivia em Demacia, onde as pessoas conheciam o potencial destrutivo da magia e a tratavam de acordo.

Conforme considerava sua situação cada vez mais desesperadora, Lux percebeu que se encontrava diante do monumento Galio. A enorme estátua fora esculpida há muito tempo, como estandarte de guerra para os militares, acompanhando-os em suas missões no exterior. Esculpido em petricita, Galio possuía propriedades capazes de absorver magia, as quais já salvaram inúmeras vidas dos ataques de arquimagos. Se as lendas fossem verdadeiras, ela até teria ganhado vida em certos momentos, quando poder místico o bastante tivesse sido absorvido. No momento, a estátua permanecia imóvel como uma montanha, vigiando a Estrada Memorial, longe do tráfego das rotas principais.

Lux aproximou-se da estátua com cuidado. Desde que era menina, ela imaginava que o antigo titã mantinha guarda vigilante sobre todos os que passavam sob ele. Ele parecia olhar para dentro de sua alma, julgando-a.

"Seu lugar não é aqui", ele diria, em tom acusatório.

Apesar de falar apenas em sua imaginação, a garota sabia que era verdade. Ela era diferente. Não tinha como negar. Seus sorrisos constantes e exuberância destacavam-se em meio à famosa austeridade de Demacia.

E havia o brilho. Desde que se lembrava por gente, Lux sentia um calor no coração ansioso por se libertar. Quando era pequena, o brilho era fraco, e ela conseguia disfarçá-lo com facilidade. Agora, o poder tornara-se grande demais para permanecer oculto.

Carregada de culpa, Lux ergueu os olhos para o colosso.

"E então, não vai dizer nada?", gritou.

Isso não era normal para Lux, mas o dia não fora bom, e botar os sentimentos para fora a acalmava. Ela deixou escapar um suspiro pesado de alívio, mas imediatamente sentiu vergonha pela explosão. Eu acabei de gritar com uma estátua?, se questionou ela olhando ao redor para garantir que ninguém a vira. Em certos momentos do ano, esta estrada era tomada de viajantes em peregrinação ao colosso, pagando tributo ao símbolo da determinação de Demacia. Contudo, naquele momento, a Estrada Memorial estava vazia.

Enquanto Lux procurava por transeuntes, ouviu um rumor enrouquecido no ar acima e ergueu a cabeça. O som viera do alto do Colosso. Era comum pássaros voarem de seus ninhos na coroa da estátua, mas isso não era um pássaro. Soava como um vaso enorme de argila sendo arrastado por cima de paralelepípedos.

Lux observou por um longo tempo, mas nada se moveu na estátua. Talvez fosse só sua imaginação processando o trauma dos eventos do dia. Mesmo assim, seus olhos permaneceram fixos no colosso, desafiando o que quer que fosse a se mover de novo.

E foi então que os olhos da estátua se mexeram. Os grandes orbes de pedra rolaram nas órbitas, encontrando Lux na grama abaixo.

O rosto da garota empalideceu. Ela sentia a enorme figura de pedra estudando-a. Desta vez, não era fruto da sua imaginação. Lux se recompôs e correu, afastando-se da estátua o mais rápido e o mais longe que podia.

Mais tarde, naquela noite, Lux passou pelo arco de alabastro da mansão da sua família na cidade. Ela caminhara muitos quilômetros, o dia todo, a cidade toda, na esperança de que seus pais estivessem dormindo quando ela voltasse. Mas uma pessoa não estava.

Sua mãe, Augatha, estava sentada no sofá no canto do hall de entrada, mirando a porta com ardente expectativa.

"Você sabe que horas são?", ela exigiu.

Lux não respondeu. Ela sabia que passava da meia-noite, muito além da hora que sua família costumava dormir.

"A escola decidiu não expulsá-la", disse Augatha. "Não foi uma bagunça fácil de arrumar."

Lux queria desabar em lágrimas, mas ela não fez nada além de chorar o dia todo, e seus olhos simplesmente secaram. "Eles quase viram", disse.

"Imaginei. Está piorando, não é?"

"O que eu faço?", disse Lux, exausta de tanta preocupação.

"O que devemos", sua mãe respondeu. "Você perdeu o controle. Em algum momento, alguém sairá ferido."

Lux ouvira a história de soldados mortos em batalha pelas mãos de feiticeiros, seus corpos derretidos ao ponto de ficarem irreconhecíveis e almas partidas em duas. Ela se sentia miserável, sabendo que carregava um poder de tamanho potencial destrutivo. Ela queria se odiar, mas estava anestesiada pelo fluxo constante de emoções que sentira ao longo do dia.

"Pedi a ajuda de um profissional", disse Augatha.

O estômago de Lux revirou. Só havia uma profissão que lidava com o seu tormento. "Um anulador?", ela disse, sem ar.

"É um amigo. Alguém que eu já devia ter chamado há muito tempo", disse Augatha. "Pode confiar na discrição dele."

Lux afirmou com a cabeça. Ela sabia que a vergonha era iminente. Mesmo que o homem não contasse a ninguém, como sua mãe garantia, ele ainda saberia.

E as curas... Ela não queria pensar nisso.

"Ele vem para uma consulta pela manhã", disse Augatha, subindo as escadas para o seu quarto. "Esse será o nosso segredinho."

As palavras não a confortaram. Lux não era nem uma mulher ainda e sua vida já estava acabada. Tudo o que ela queria era subir as escadas e cair em um sono profundo que enterrasse todos os seus problemas na escuridão. Ela sabia, porém, que seus problemas peculiares não desapareceriam com o nascer do sol. A luz ainda crescia dentro dela, ameaçando explodir novamente a qualquer momento. O anulador chegaria pela manhã para realizar algum tratamento terrível. Lux ouvira rumores, rumores horríveis de petricita moída e engolida em poções, seguidas de momentos de dor excruciante. É verdade que a garota queria se ver livre de sua aflição, mas parte nenhuma dela deseja passar por isso.

Será que não há outro modo?, ela se questionava.

É claro!

A ideia atingiu sua mente como um raio. Ela se encheu de terror e de esperança ao mesmo tempo, incerta se o plano se se quer funcionaria. Mas ela sabia que era algo que precisava tentar.

Durante a noite profunda, Lux refez seus passos, de volta pelo arco de alabastro, passando pelo bulevar, esgueirando-se pelos guardas nos portões. Ao sul, ela encontrou a Estrada Memorial, e seguiu-a por quilômetros antes de alcançar o local de repouso do Galio. Seu coração galopava no peito.

"Olá?”, perguntou a garota, tremendo, incerta de se queria ouvir uma resposta.

Lux aproximou-se do plinto onde ficava o colosso, sozinha sob a quietude da noite. Ela repousou a mão com cuidado sobre o fundamento de petricita. Que gosto será que tem? Aposto que é muito amargo, supôs. Logo ela descobriria, a menos que seu plano funcionasse.

"Bom, dizem que você conserta magia", ela disse. "Então, me conserte. Quero ser demaciana."

Ela olhou para o colosso. Ele continuava tão inerte e inabalável quanto o modo de vida em Demacia. Nem mesmo os morcegos voavam em torno dele nessa noite. O que ela ouvira antes — o que ela achava que vira — foi algo que ela imaginou no fim das contas. Ela retirou a mão do plinto, ponderando para onde mais poderia ir.

"Pequena pessoa menina", proferiu uma voz retumbante acima.

Os olhos de Lux viraram para cima e viram a estátua inclinando sua enorme cabeça para baixo. Sua mente acelerou. Ele sabe. E ele não vai consertar você. Ele vai esmagar você feito um inseto.

"Você poderia... coçar o meu pé?", pediu o colosso.

Galio observou espantado a garota que corria dele, sua pequena cabecinha gritando palavras que ele não compreendia. Apesar de tê-la observado por anos, ele nunca soube que ela era capaz de se mover tão rápido, e com tanto barulho.

Desde que a garota era muito jovem, Galio a via quando ela parava ali nas viagens anuais da família. Ele a estudava com fascinação, empenhando-se para observá-la mesmo quando ela entrava e saía de seu campo de visão. Então, no meio das brincadeiras, ela lembrava que ele estava lá, acima dela, e se escondia atrás da saia de sua mãe. Quando o colosso estava adormecido, tudo parecia se mover em nebulosa distorção. O mundo era opaco, e as pessoas não passavam de centelhas diante de seus olhos.

Mesmo assim, Galio sentia algo profundamente especial na garota. Era um brilho, mas não apenas uma luminescência visual. O tempo passava mais devagar com ela, e a névoa se erguia ao mesmo tempo em que algo estranho se alvoroçava dentro de sua forma de pedra.

Começou pequeno. Quando a menina era um bebê, Galio sentia o estranho calor dela fazendo cócegas em seus pés. Em sua segunda visita, Galio pôde sentir o calor envolvendo toda a sua perna. Quando ela tinha dez anos, o calor da menina era tão forte que Galio conseguia sentir sua aproximação mais de um quilômetro de distância e sentia-se animado na expectativa pela visita.

Agora, lá estava ela de novo, apesar de não ser seu dia normal de visita. O poder dela ardia com tamanha intensidade que se espalhara como um incêndio por seu interior gelado. Ela o trouxera à vida!

Agora que Galio estava desperto, ela via o brilho dela com formidável clareza. Ela fulgurava como todas as estrelas do firmamento.

E estava indo embora de novo.

Com cada passo que a garota dava, Galio sentia sua vida evaporando, levando-o de volta ao seu estado frio e imóvel. Se ele ficasse inerte, jamais conheceria a garota. Ele tinha de segui-la.

Suas longas pernas impulsionaram-se no plinto, alcançando facilmente a menina com seus passos enormes. Os seus olhos se arregalaram enquanto virava na direção do colosso. Um raio concentrado de luz disparou dos dedos da menina contra a perna de Galio. A estranha sensação dentro dele se intensificou até que ele pensou que poderia explodir, espalhando seus pedaços por toda Demacia.

Ainda assim, Galio não quebrou. Em vez disso, ele ficou mais quente e mais vivo. Ele abaixou-se e apanhou gentilmente a menina em suas mãos. Ela cobriu o rosto, como se estivesse se protegendo de algum mal iminente.

O Colosso começou a rir, como uma criança que brinca em uma fonte.

"Pequena pessoa da cabeça dourada", ele disse. "Você é engraçada. Por favor, não se vá."

A menina lentamente superou o seu trauma, e respondeu: "Eu... Não posso. Você está me segurando."

Percebendo sua ofensa, Galio recolocou a menina no chão com cuidado.

"Me desculpe. Não costumo conhecer pequenas pessoinhas meninas. Eu só acordo para destruir coisas", ele explicou. “Você tem coisas para destruir? Coisas grandes?"

"Não", disse a menina, sua voz fraca.

"Então vamos achar algo para destruir." Ele percorreu alguns estrondosos passos antes de se virar e descobrir que a menina não o seguia. "Você não vem, pessoa menina?"

"Não", ela respondeu, a voz ainda mais trêmula, sem saber se sua resposta desagradaria ao gigante. "Estou tentando não ser muito vista agora."

"Ah. Me perdoe, pessoa menina."

"Bem. Estou indo embora", disse Lux, no que ela pensou que seriam palavras de adeus. "Foi bom conhecer você."

Galio seguiu-a. "Você está se afastando da sua cidade", ele observou. "Para onde está indo?"

"Eu não sei", ela respondeu. "Algum lugar onde eu me encaixe."

O colosso virou a cabeça para ela. "Você é demaciana. O seu lugar é em Demacia."

Naquele momento, a garota viu empatia no gigante e sentiu que podia se abrir.

"Você não entenderia. Você é um símbolo deste reino. Eu sou só..." Ela procurou por uma palavra que dissesse tudo sem dizer demais. "Eu sou toda errada", ela disse, enfim.

"Errada? Você não pode ser errada. Você me deu vida", proferiu Galio, baixando sua enorme face de pedra até ficar na altura do rosto dela.

"Esse é o problema", disse a garota. "Você não devia estar se movendo. O único motivo para você se mover sou eu."

Galio reagiu com um silêncio atordoado, depois irrompeu em alegre epifania.

"Você é uma maga!", ele proclamou.

"Shhh! Por favor, fique quieto!”, implorou a garota. "Vão ouvi-lo."

"Eu destruo magos!", ele afirmou. E completou rapidamente: "Mas você não. Eu gosto de você. Você é a primeira maga de quem eu gosto."

O medo de Luxanna começou a sumir, dando espaço à irritação. "Ouça. Apesar disso tudo ser maravilhoso e milagroso, eu preferiria que me deixasse em paz. Além disso, as pessoas vão notar que você sumiu."

"Eu não me importo", insistiu Galio. "Que notem!"

"Não!", disse Lux, recuando diante da ideia. "Por favor, volte ao seu lugar."

Galio parou para refletir, e sorriu como se lembrasse de algo engraçado. "Faça aquilo de novo. Com a sua luz maravilhosa!”, ele disse, alto demais para o gosto de Lux.

"Shhh! Pare de gritar!”, ela implorava. "Está se referindo à minha aflição?"

"Sim", disse Galio, em um tom ligeiramente mais suave.

"Me desculpe. Eu nem sempre consigo. E eu não devia fazer. Você tem que ir", ela insistiu.

"Não posso. Se eu deixar você, vou dormir. E quando eu acordar, você terá sumido, coisinha menina."

Lux parou. Apesar de estar furiosa de exaustão, ela se sentia tocada pelas palavras do titã.

"Se eu conseguir fazer de novo, você promete que vai embora?", ela perguntou.

O colosso ponderou por um momento, e então aceitou a proposta.

"Certo", disse a garota. "Vou tentar."

Ela apertou as mãos junto ao corpo e lançou-as para frente, na sua direção. Para sua decepção, nada além de uma pequena faísca de luz cintilou nas pontas dos seus dedos. Ela tentou, de novo e de novo, obtendo resultados cada vez piores.

"Devo estar cansada", ela percebeu.

"Repouse", sugeriu Galio. "Aí, quando estiver descansada, você pode me dar a sua magia."

"Hmm", pensou Lux, refletindo sobre a sugestão. "Não posso me livrar de você, e também não tenho para onde ir. Não vejo por que não deitar mesmo."

Ela começou a cutucar o chão em busca de um pedaço confortável de grama. Quando encontrou um lugar adequado, deitou e se envolveu confortavelmente em seu manto.

"Bom, eu vou dormir agora", disse com um bocejo. "Você também devia."

"Não. Eu durmo demais", respondeu Galio.

"Você pode... Sei lá, se congelar por um tempo, então?"

"Não é assim que eu funciono", disse o colosso.

"Então fique imóvel e finja que você não está vivo."

"Sim. Ficarei aqui e observarei você descansando, menina pessoa", disse Galio.

"Por favor, não", insistiu Lux. "Não vou conseguir dormir com você me olhando. Você pode... olhar para o outro lado?"

Galio honrou o pedido da menina, virando-se de costas, na direção das luzes distantes da capital demaciana. Não era tão interessante quanto a menina, mas teria de bastar.

Tendo de se contentar com esse mínimo de privacidade, Lux fechou os olhos e caiu no sono.

E quando tinha certeza que Galio não se viraria, ela levantou em silêncio e afastou-se na noite.

Luxanna caminhava depressa, consciente de que sua prioridade era se afastar o máximo possível do colosso. Do contrário, sua magia continuaria a alimentá-lo, e ele não tardaria em vir atrás dela. De manhã, cada patrulha no reino estaria procurando pela garota Stemmaguarda que desaparecera durante a noite. Certamente, eles perceberiam o monumento nacional ambulante que a seguia e então saberiam que a garota era a fonte mágica que o despertara.

As pernas doloridas de Lux aceleraram e correram. Ela mal prestava atenção aos seus arredores. Era difícil encontrar qualquer ponto de referência a essa hora. Tudo o que ela sabia com certeza era que Bosquenuvem estava próximo. Suas altas árvores vermelhas formavam a linha do horizonte ao sul. Seria ideal para se esconder de patrulhas de busca e um bom local para procurar por algo para comer. Ela poderia cruzar a floresta em dois dias e buscar abrigo em uma das vilas vaskasianas de lenhadores, onde provavelmente não seria reconhecida. Não era um plano genial, nem de longe, mas era o melhor que ela tinha.

Lux conseguia ver a beira da floresta formando-se em seu campo de visão, as árvores progredindo como uma pirâmide, a maior no meio. Ao cruzar o limiar do bosque, ela parou por um momento para lamentar o que estava abandonando. Ela sentiria saudades de seu irmão Garen, de seu amado corcel, Fogo Solar, e até de sua mãe, mas era assim que precisava ser.

Sombras se extinguem diante da luz, ela se reconfortou, dando um passo à frente, rumo à escuridão do denso bosque.

Após uma hora traçando sua rota entre os galhos farpados e resinosos da floresta, Lux já duvidava de seu plano. Seu estômago roncava, e qualquer esperança de encontrar uma rota clara entre as árvores sumira com a lua brilhante entre as nuvens. Ao seu redor, ela ouvia os farfalhos e os ruídos de animais noturnos e ficava nervosa.

Só um pouco de luz, pensou. Um pouquinho só não vai fazer mal aqui tão longe de tudo.

Ela começou a conjurar um orbe luminescente entre as mãos. Por um breve instante, uma centelha de luz dançou nas pontas dos seus dedos, causando audível tumulto entre as criaturas ao seu redor. Mas a luz se apagou tão rápido quanto veio, e tudo voltou a ser escuridão. Lux observou o contorno de suas mãos, inspecionando-as em busca de defeitos. Perguntava-se o que poderia impedi-la de fazer algo que antes viera com tanta facilidade e sem limites.

É o colosso, ela percebeu. Tem que ser.

De repente, ela tomou consciência das vozes no murmúrio florestal. Passos lentos e decididos. E sussurros. Eles estav-

Um braço surgiu ao redor do pescoço de Lux e a conteve. Ela sentia a presença de pelo menos outros dois homens ao seu redor.

"Para onde vai esta noite, senhorita?”, perguntou um dos homens.

Lux gaguejou sem formular uma resposta direito. O homem que a imobilizava apertou mais.

"Você devia estar nos guetos de anulamento, não?", ele disse.

"Não..." Lux arquejou, o braço do homem preso firmemente sob o seu queixo. "Eu não sou..."

"Não somos idiotas, senhorita", disse o terceiro homem. "Venha. Vamos levar você de volta."

Lux debateu-se para soltar os braços enquanto os homens tentavam amarrá-la com uma corda áspera. Ela se concentrou, mas ainda não conseguiu conjurar a magia que outrora parecera ser sua. Ela libertou uma das mãos, acertou um dos homens na mandíbula e ouviu o som dos gravetos no chão quebrando quando ele caiu. Os dois outros homens lançaram-se ferozes contra ela.

"Você não devia ter feito isso", disse um com expressão grave. "Você não devia mesmo ter feito isso."

Os homens apertaram as amarras. Eles faziam questão de deixar os nós tão apertados e dolorosos quanto podiam quando o chão começou a vibrar com um barulho seco de trovão. Os homens pararam, aterrorizados, buscando a origem do barulho, que crescia lentamente em frequência e volume.

Soava como um terremoto, mas em estrondos ritmados... como passos gigantes.

E estavam se aproximando.

"O que é isso?", perguntou um deles, apavorado demais para se mover.

O chão tremeu mais, e seu abalo foi acompanhado pelo estalar de grandes árvores sendo partidas. O que quer que fosse, estava na floresta e quase junto a eles.

"É... É..."

Todos olharam para cima e viram o monstruoso Galio caminhando em sua direção, com uma estrada de árvores rubras caídas no seu encalço. Os homens correram, afastando-se apenas alguns passos pela floresta antes da mão gigante de petricita erguê-los no ar. Galio focou seu enorme olho naqueles pedaços apavorados de carne que ele agarrava firmemente.

"Está na hora de lutar?", perguntou o colosso arreganhando os dentes. "Eu luto com vocês!"

Ele abriu o seu punho cerrado e ergueu a outra mão como se para esmagar os homens entre as palmas.

"Não!", disse uma voz miúda. "Por favor, pare!"

O colosso encontrou Lux no chão abaixo, batendo nos seus tornozelos com seus braços atados.

"Não é certo!", ela gritava.

Confuso, Galio colocou os homens no chão e os libertou. Lux ouviu os passos rápidos dos homens, correndo dela com a urgência de um alce sendo caçado. Ao se livrar de suas amarras, ela olhou para o colosso.

"Eu me viro e você tinha sumido, pessoa menina", disse ele. "Por que você está nas árvores?"

"E- eu não sei", foi tudo o que Luxanna conseguiu dizer.

Galio reclinou sobre a colina, observando as estrelas com a menininha de cabelo amarelo com quem fizera amizade. Nenhum deles falava, exceto em suspiros ocasionais, mas não as arfadas tensas que Lux proferira anteriormente. Eram os sons de dois seres que tinham encontrado verdadeiro contentamento na companhia um do outro.

"Não costumo ficar acordado por tanto tempo", disse o colosso.

"Nem eu", respondeu a garota, com um enorme bocejo.

"Como as pessoas passam tempo sem batalhar? Devíamos conversar?"

"Não. Assim está bom", disse a garota. "Me sinto... calma."

Uma carranca formou-se na face de Galio. Havia algo de diferente na menina. Algo faltando. Ela não brilhava mais como as estrelas.

"Por que você está triste? Você me curou", disse ela. "Enquanto você estiver por perto, posso voltar para casa e ser normal."

Galio não se animou nem olhou para cima. A menina continuava em seus pensamentos.

"Quer dizer, talvez eu possa ir visitar você todos os dias para curar minha aflição—"

"Não", disse o titã, finalmente encarando o seu olhar.

"Por que não?", ela perguntou.

"Jovem menina pessoa, você é especial. Há mais tempo do que se lembra, eu já sentia o seu dom. Por tanto tempo, eu o quis perto de mim. Mas agora eu entendo... Eu destruo o seu dom."

"Mas ele lhe dá vida."

Galio pesou suas palavras, mas apenas por um instante. Ele já estava decidido.

"A vida para mim é muito valiosa", ele disse. "Mas o seu dom é tudo. Nunca o perca."

Ele se levantou e colocou a garota com cuidado sobre seu ombro. Juntos, iniciaram o retorno até a cidade para enfrentar o que os aguardava.

O sol começava a brilhar no horizonte quando Lux retornou à mansão de sua família. Fora dos muros da cidade, Galio retornava à imobilidade em seu plinto ao lado da Estrada Memorial, deixando Lux com sozinha com seus problemas.

Sombras se extinguem diante da luz, pensou ao girar o trinco da porta da frente.

Ela entrou na casa e viu sua mãe sentada no salão ao lado de um homem calvo de meia-idade, que trazia uma maleta exótica com tinturas médicas no colo.

"Luxanna, que bom que você decidiu voltar para casa", disse Augatha por entre seus dentes cerrados.

Lux olhava com preocupação para o homem no sofá.

"Este é o homem de quem eu falei", sua mãe sussurrou. "Aquele que vai consertar o seu... problema."

Lux sentia-se distante, como se o seu espírito estivesse deixando aquele corpo para observar o que ela diria.

"Sabe de uma coisa, mãe?", disse ela, sua voz tremendo com as palavras que ela ansiava há tempos em dizer. "Não sei se quero ver este homem. Na verdade, quero que você o mande embora."

O anulador pareceu ofendido. Ele ergueu-se e jogou a bolsa por cima do ombro.

"Não, fique", implorou Augatha. Ela cercou Lux e passou a falar com autoridade. "Você não sabe o que está dizendo. Este homem arriscou tudo para ajudá-la. Este é o único jeito de você ser uma demaciana. Esqueceu-se da sua afli-"

"Não tenho uma aflição!" Lux gritou. "Sou linda e valiosa, e um dia vou provar isso para todo o reino! E se alguém tiver algum problema comigo, tenho um amigo enorme com quem podem conversar."

A passos largos, ela subiu para o quarto, deixando sua mãe sozinha com o anulador.

Quando Lux caiu na cama, ela soltou um suspiro profundo e tranquilo. Pela primeira vez em muitos anos, sua mente estava calma como um lago no verão. A luz que outrora explodia de dentro de si continuava lá, mas era possível sentir seu início e seu fim, e ela sabia que um dia poderia dominá-la.

Ao cair no sono, ela percebeu que seu mantra estivera errado o tempo todo. Luz nenhuma poderia matar sombras.

Sombras crescem ao lado da luz, ela pensou. Soava muito melhor.

A Última Luz[]

O terremoto atingira Terbisia ao amanhecer, a terra chacoalhou como um corcel indomado e a partiu ao meio em profundas fissuras. Lux estava montada em Fogo Solar, cavalgando pelas ruínas acidentadas do barbacã de defesa; suas altas muralhas de pedras desbotadas pelo sol pareciam ter sido bombardeadas pelos cercos noxianos por semanas. Ela guiava o cavalo cuidadosamente entre blocos caídos de alvenaria em direção a uma enfermaria improvisada que havia sido montada em um pavilhão mercantil azul e branco.

Lux nunca tinha visto devastação em tamanha escala. As construções de Terbisia eram feitas de granito duro e madeira de carvalhos demacianos, cultivados por esforços conjuntos da comunidade, e quase todas estavam completamente destruídas. Homens e mulheres cobertos de pó usavam pás e picaretas para procurar sobreviventes entre os destroços, mas apenas conseguiam arrastar cadáveres pelos escombros. Ruas inteiras simplesmente desapareceram nas fendas fumegantes que agora separavam os distritos da cidade.

Lux desmontou do cavalo ao chegar no pavilhão e adentrou o lugar. Ela não tinha poder de cura, mas podia buscar, carregar ou simplesmente sentar com os feridos. Lux achava que ver a escala da devastação a prepararia para lidar com o sofrimento nas tendas,

mas não podia estar mais enganada.

Centenas de sobreviventes resgatados dos escombros repousavam sobre lençóis de lã. Lux ouvia mães e pais gritando em busca dos filhos desaparecidos, esposas e maridos agarrados em seus parceiros mortos e o pior de tudo: órfãos perplexos e atônitos, vagueando desnorteados e assustados. Lux viu um cirurgião conhecido. Ele usava um avental endurecido de sangue seco e lavava as mãos em uma bacia de estanho. A garota se aproximou.

"Cirurgião Alzar", disse ela. "Diga-me como posso ajudar."

Ele se virou, olhos perturbados e remelados de lágrimas. Passou-se um momento até que a familiaridade do rosto de Lux penetrasse a névoa de sua dor.

“Lady Stemmaguarda", disse Alzar, curvando-se ligeiramente.

"Lux", disse ela. "Por favor, como posso ajudar?"

O médico suspirou e disse: "Você é realmente uma bênção, senhorita, mas lhe pouparei do horror dos acontecimentos aqui."

"Não me poupe de nada, Alzar", replicou Lux. "Sou uma demaciana, e demacianos ajudam uns aos outros."

"Claro, perdão, senhorita", disse Alzar, com um suspiro exausto. "Sua presença será um alívio para os feridos."

Alzar a levou até um jovem deitado em uma cama de paletes ao fundo do pavilhão. Lux engasgou ao ver o horror de suas feridas: o corpo do rapaz estava quebrado, inteiramente esmagado por destroços, e seus olhos se escondiam atrás de ataduras ensanguentadas. Pela teimosia em não demonstrar dor, a garota imaginou que ele fosse um soldado.

"Ele desenterrou uma família dos escombros de sua casa", disse Alzar. "Ele os resgatou, mas continuou procurando por sobreviventes. Houve um segundo terremoto, e outra construção ruiu em cima dele. A queda esmagou seus pulmões, e estilhaços de vidro arrancaram seus olhos."

"Quanto tempo ele tem?", perguntou Lux, com cuidado para falar em voz baixa.

"Só os deuses sabem, mas pouco", respondeu Alzar. "Se você pudesse ficar ao seu lado, aliviaria sua passagem para os braços da Mulher Velada."

Lux afirmou com a cabeça e sentou-se ao lado do homem moribundo. Ela tomou sua mão e sentiu o coração pesado pelo rapaz. Alzar sorriu agradecido e voltou a ajudar aqueles que podia salvar.

"Está tão escuro", disse o homem, acordando com o seu toque. "Pelos deuses, não enxergo nada!"

"Não se mexa muito, soldado. Diga-me como se chama", pediu Lux.

"Dothan", disse ele, fôlego chiando a cada esforço.

"É em homenagem ao herói da Guarida Nascente?"

"Isso. Conhece a história? É um antigo conto de luta contra os selvagens."

"Acredite, conheço bem", disse Lux com um sorriso pesaroso. "Meu irmão contava essa história o tempo todo quando éramos crianças. Ele sempre me obrigava a fazer o papel dos corsários freljordianos, enquanto ele era Dothan e defendia sozinho o porto contra os metamorfos."

"Eu tentei ser como ele", disse o jovem com a respiração pesada e a voz falhando. Um fio de sangue escorria por debaixo da bandagem, como uma lágrima vermelha. "Tentei viver para provar o meu nome."

Lux segurou a mão dele com ambas as dela.

"Você conseguiu", disse ela. "Alzar me contou o que aconteceu. Você é um verdadeiro herói demaciano."

As feições de Dothan suavizaram um pouco, sua respiração raspando contra a garganta conforme sua força se esvaía.

"Por que não consigo enxergar?"

"Seus olhos", disse Lux, calmamente. "Eu sinto muito."

"O que... O que há de errado com eles?"

"O cirurgião Alzar me disse que você tem estilhaços de vidro neles."

O homem inspirou subitamente.

"Estou morrendo," disse ele. "Eu sei... Mas gostaria... De ter contemplado a luz de... Demacia... Uma última... Vez."

Lux sentiu sua magia agitar-se dentro de si, mas sussurrou o mantra ensinado a ela pelos Iluminadores para que não chegasse muito próxima à superfície. Ela aprendeu a controlar melhor seus poderes com o passar dos anos, mas, às vezes, quando suas emoções ficam à flor da pele, é difícil conter tais energias. Ela olhou à sua volta e, satisfeita com o fato de que não tinha ninguém olhando, apoiou a ponta dos dedos na atadura sangrenta que cobria os olhos de Dothan. Lux despejou a radiância divina de sua magia pelo crânio do homem até as partes não danificadas de seus olhos.

"Não posso te curar," ela disse, "mas ao menos isso eu posso fazer por você."

Ele apertou sua mão, boquiaberto de esplendor conforme a luz de Demacia brilhava dentro dele.

"É tão bonito..." ele sussurrou.

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